quarta-feira, 31 de março de 2010

A escrita.

Já parou para pensar como o mundo seria diferente se aprendêssemos primeiro a escrever do que a falar. Mas que proposta tola, o ato de escrever envolve muitas atividades motoras finas e cerebrais, é impossível. Amigo, peço que ignoremos tais minúcias fisiológicas e científicas e simplesmente abstraíamos.

O mundo teria poucos sons, a habilidade de interpretá-los estaria restrita apenas ao seres mais evoluídos intelectualmente. Consequentemente, a sensibilidade auditiva aprimorar-se-ia juntamente com a evolução da fala. Assim, os grandes gênios escritores de hoje, tornar-se-iam gregos oradores discursando para um grupo seletíssimo. Imagine, por exemplo, se ninguém em sua cidade tivesse o mesmo grau intelectual que você e fosse hábil para conversar. A solução? Talvez sair falando solitariamente. Nesse caso, não o chamariam de louco, quando passasse, erguer-se-iam papéis comentando “esse é um intelectual! Com “I” maiúsculo”.

Ao nascer o bebê receberia a tapa ecoante do médico, juntamente com os ruídos metálicos dos instrumentos que envolvem a profissão, e ao invés de um “buáááááá” estridente, ler-se-ia em letras trêmulas e fortemente grafadas com sangue maternal no lençol “AAAAI”. A família ficaria atordoada, entretanto, feliz com o bom desempenho do varão com as letras. Os pais chorariam ao ver o filho escrever o primeiro “P”, ou quem sabe o primeiro “D” ou “F”, para os ingleses. Já as mães, emocionar-se-iam a qualquer esboço de “M”, mesmo que o universo insistisse que aquilo tinha sido apenas um apoio no lápis sem querer.

Todos nas ruas andariam com blocos de anotações em mãos para se comunicar, ferramentas virtuais de comunicação, que utilizam texto, seriam vitais e não apenas diversão. Os adolescentes acoplados cada um ao seu palm top, digitando numa velocidade alucinante, impensável para um senhor de idade, sem contar que abreviando e reduzindo termos. Nesse mundo, coisas como “hauahçalkspahskejçalskdaspdhaserlakehriu”, tornar-se-iam notas de uma semana inteira de diário de uma jovem. O traço de cada letra possuiria um significado diferente, o mais grosso na letra h (hilário) definiria o quão engraçado foi o fato e daí por diante.

Caso estivéssemos ainda na época da ditadura, o governo mandaria soldados à paisana pelas ruas para verificar o que os meliantes subversivos planejavam. As coisas traduzir-se-iam, talvez, mais palpáveis, uma vez que haveria prova escrita sobre qualquer assunto e a “palavra de honra”, tornar-se-ia o máximo selo entre contratantes.

Nos parques existiriam mais latas de lixo do que bancos e as árvores seriam muitas, pois uma sociedade escritora pensaria mais antes de vomitar idéias e com certeza seria mais consciente, não só localmente, mas mundialmente.


VARCELLY


quarta-feira, 24 de março de 2010

Formiga I

Um dia uma formiga passeava pelo jardim de uma casa em busca do seu jantar. Depois de muitas buscas encontrou um grão de açúcar, guiada por seus instintos o levou até um lugar seguro para armazenamento. Ela descansou o grão no chão e começou a remover pedaços pequeninos de terra até criar um pequeno buraco. Nele depositou o grão e se alimentou.

Todo dia, a cada novo grão, ela cavava mais a terra e montes de areia iam surgindo em volto do local. O buraco cresce, os montes também, a quantidade de açúcar também, assim como a população.

Antigamente era possível ignorar a construção em meio à tão grandioso jardim, mas hoje ela é parte significativa do cenário e se chama Saudade.

VARCELLY

quarta-feira, 17 de março de 2010

Meu celular morreu




Morreu no meio de uma noite fria
onde eu debatia assuntos virtualmente
Morreu do um choque
Ou quem sabe,
morreu de uma semente

Lançou seu último suspiro
num tremor desajeitado,
caindo da cama,
despertando-me de um sonho
e de um sono tão profundo

Abri os olhos, ainda atordoado,
vi o fadeout da luz de seu visor
rareando,rareando,rareando
Se apago.

Pensei que ele tinha adormecido
e voltei a dormir
Ao amanhecer tentei acordá-lo em vão
O botão que antes era verde e o despertava
agora estava vermelho...

Pena terem arrancado o seu coração alimentador
Pena que agora nossas conversas não têm assunto
Pena não podermos mais usá-lo como conector
Pena que com ele um pouco de mim morreu junto.


VARCELLY


quarta-feira, 10 de março de 2010

Elle (Elle - 01)

Obs-> Opa, tudo bem? To passando rapidinho aqui antes do post pra apresentar Elle, que é um personagem meu criado no ano passado e já com alguns textos. Pensei em criar um blog pra ele, mas a produção parou e a idéia também. Espero que gostem, porque assim eu me reanimo pra escrever sobre Elle.heheh
Obs²-> Para postar comentário basta clicar em COMENTÁRIO, link encontrado no final da postagem, juntamente com autor,marcadores e opinião.



Eram três e meia da manhã de um dia qualquer da semana. Elle tentava continuar dormindo, entretanto a cama parecia insatisfeita com essa idéia. Nos últimos tempos à noite ela lhe dava dores nas costas. Estranho era isso não acontecer durante os cochilos vespertinos. A cama aparentava estar a esperar outro corpo no lugar do de seu dono.

Levantou-se com as costas doloridas. Não se espreguiçou, afinal objetivava continuar dormindo, se não na cama em outro lugar qualquer. O lençol já o cobria apenas parcialmente quando terminou de escorrer em direção ao chão, desnudando a maior parte do corpo. Noites de inverno depois da chuva, sinônimo de ausência de vento. Além da dor nas costas o calor também o fustigava, apesar da pouca roupa.

Andou em direção a cozinha sem acender uma luz sequer, não podia espantar o sono, as paredes o tangiam como cães-guia, lentamente nos seus momentâneos 80 anos ia arrastando os pés, por preguiça de levantá-los, e meio corcunda. Venceu o corredor e a sala e chegou à cozinha onde preparou um grande copo de água gelada. O seu corpo agradeceu cada gota.

De longe era possível vê-lo, jovem, agora esguio, ainda de olhos fechados, vestido apenas de seu short, saboreando os poucos mililitros de água ainda presentes em seu copo. As últimas gotas adormeceram nos lábios. Uma mais audaciosa escorreu pelo canto, fez a volta no queixo e não agüentou ir muito mais longe, morreu no pescoço.

Enfim, problemas solucionados? Não! Pelo contrário. Sim, suas costas deixaram de doer, uma vez concluído o afastamento da arqui-inimiga cama. O calor estava amenizado. Porém, a mesma que cura é a própria doença, a água o despertou e trouxe algo muito pior, os devaneios.

Parou para pensar e já era tarde, não havia mais para onde correr, a moça estava estabelecida, com casa, roupa e um gasto mensal de quinhentos reais de feira. Complicado. Por um momento se arrependeu de ter saído da cama para molhar os lábios, sucumbido por um pensamento repentino sussurrou: amanhã hei de molhar os lábios dela.

Esperou o dia amanhecer e marcou hora com a psicóloga, aquilo era anormal e tinha de resolver rápido. Tomou banho, vestiu-se impecavelmente como de costume, alguns jatos de um perfume marcante e, pronto, estava na rua. Desceu a pé três quadras e cruzou avenidas, aproximadamente quinze minutos depois chegou. A aparência continuava impecável, o sol havia dado uma trégua e, visando ter o máximo de tempo possível para sua terapia, Elle marcou a consulta bem mais cedo do que o usual. A terapeuta recebia os pacientes em casa e aceitou passivamente o horário, apesar de achá-lo excessivamente matinal.

Apresentou-se no portão ao porteiro, o qual após um telefona à doutora, deixo-o subir. Andava em direção aos elevadores enquanto o porteiro conversava com outro funcionário do prédio acerca da convicção daquele rapaz ao entrar no prédio, a certeza era tanta que transparecia no andar.

O tempo parecia não passar e o mostrador retroceder, ampliando a ansiedade. Enfim o estalo tão esperado. A porta se abre. Décimo segundo andar. O hall é espaçoso e repleto de poltronas de espera. Já conhecia tudo ali, passara um tempo consultando-se com ela, nenhum grande problema, era mais para ter com quem conversar livremente. Algo como “se não confia em ninguém pague por confiança”. Tocou a campainha.

Ela estava linda como de costume. Era grande a intimidade dos dois, por isso ela já não o recebia mais tão formalmente. Olhou-a, sentiu os traços finos de seu perfume, existia uma janela do lado oposto à porta de onde vinha a brisa carregadora do perfume dela. Abraçaram-se e novamente ele a olhou. Sentaram-se na sala. Ela pegou copos d’água e biscoitos. Em seguida, o interrogou sobre a razão de sua volta, já que combinaram de sua alta há tempos atrás. Elle sorriu e se sentou no chão onde costumavam realizar um tipo de dinâmica para relaxar antes da consulta. Ela de pronto sentou-se também e começaram o jogo.

Depois de dez minutos repletos de sorrisos. Elle levantou e lhe estendeu a mão. Segurou-a pela cintura e pela mão e endireitou a postura de ambos. Ela sorriu, não entendia muito a razão daquilo na sala. Enquanto ela estava imersa em pensamentos, puxou-a contra o corpo e seus rostos estavam agora em contato. Ao tentar colocar a mão na cintura de seu parceiro ela a descansou no cós da calça dele, Elle em meio a sorrisos disse que aquilo era assédio. A mão dela terminou de descer. Elle descansou a cabeça no ombro dela e os lábios em seu pescoço e subiu em direção a boca enquanto a postura de ambos se desarmava...


VARCELLY

quarta-feira, 3 de março de 2010

Adeus mp3

Nos últimos tempos,
tudo estava sob controle
ou eu fazia o possível para que assim fosse,
desde o mais longínquo horizonte
Até a mais banal das decisões
queria cada centavo, cada segundo visível,
por todas as cartas na mesa,
cogitando as possíveis futuras jogadas
uns três passo à frente
Como arrumar todas as músicas no mp3
e conduzi-las a meu bel prazer

Não preciso mais disso
Estou reaprendendo suavemente
o prazer do inesperado,
de não está no controle,
de ver o que alguém pode me trazer

O que eu ganhei?
Duas rádios novas
O que posso vir a ganhar?
...segredo...


"Y el mundo esta mejor, el mundo esta mejor"

VARCELLY