quinta-feira, 30 de setembro de 2010

The samba must go on


Tropeço pelas ruas mal iluminadas
Os vultos passam e alguns sussurros ecoam
Havia pouca gente quando finalmente ,
auxiliado pela luz , consegui enxergar

Sambas, poemas e morenas
eram declamados aos quatro pés
num rastejado suave,
xingando a chuva desalmada
que enchia de estranhos o salão

No entanto, nada alterava aquela alegria
Quanto mais apinhado
mais viscerais e internas eram as batidas do surdo na morena
O surdo soava
suava
soava
soava

No ensejo das mãos enlaçadas
nos tragamos para longe dali
onde nossos surdos podiam tateantemente
nos guiar em nosso samba terno,
descambaleado e desengonçado
Perfeito à nossas travessas tortuosas

Às quatro da manhã
meu surdo emudeceu,
alegando ser teu último trem
correste para longe de mim
de volta aos braços daquele que ainda não sabe
mas já ti perdeu

Ao fundo,
ouvia-se o tamborim do mendigo latindo

“Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar nosso amor
Modesto
Um tipo de amor
Que é de mendigar cafuné
Que é pobre e às vezes nem é
Honesto
Pechincha de amor
Mas que eu faço tanta questão
Que se tiver precisão
Eu furto”

Volto a ensurdecer
Afinal, já se aproximam as seis
Melancolia na alvorada
só se um dia o samba acabar


Varcelly

ps-> Aproveitando o ensejo boêmico,
convido todos para a apresentação do FOURUM,
grupo de dançar de rua do qual faço parte,
no Buraco da Catita no dia 20/10 às 20h,
junto com outras apresentações também.
Assim que tiver algum material de divulgação
mais sólido eu trago pra vocês.Abraço

ps2-> deixo aqui o link para o canal do FOURUM
no youtube,caso queiram conhecer o trabalho.link

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O poeta

"Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!"

Manuel Bandeira - Impossível Carinho






O que seria do poeta se ele fosse um homem de acertos?
Não sei quanto às outras poesias,
Mas com certeza, amorosas, só escreveria uma.
Pois é, o poeta é um alguém que vive de confundir o amor
Ou então, sejamos mais otimistas com a expectativa de vida dele,
Alguém brincado de pensar que encontrou o amor

O poeta vive uma paixão, um desejo, um olhar, um beijo...
De maneira tão intensa que por alguns segundos se sente apaixonado
É como o impulso, se a força é aplicada num curtíssimo tempo,
Tem grande magnitude

Mas o poeta também é um canto onde o sentimento demora a se expressar
Ele rumina muito bem cada informação,
Criando conexões, possibilidades
E assim, vai acumulando forças, todas deixadas pela belle de ju

Então, já em casa, às vezes dias depois, quem sabe horas
Tudo é jogado num papel, numa parede, no que estiver próximo
Pela última opção
Pode-se perceber que poeta não só escreve

Poeta é aquele corredor desvairado na avenida depois do carnaval
Poeta é o admirador irremediável da lua e do mar
Poeta é a criança com um brinquedo novo
Poeta é um amplificador
Poeta é intensidade
Poeta é um mundo em 1s...

Os poemas, no entanto,
Ficam com ela
Juntamente com a lembrança de que ninguém
Nunca a amará tanto por um momento
Quanto mais por uma vida

VARCELLY

ps-> Parabéns amor. ^^ Tudo de melhor pra você.
ps2-> eu sei que a foto é de Drummond,viu pessoal.kkkkkkkkkkkk
Tenho culpa se são os dois poetas que mais gosto?Botei logo
os dois. ^^

Clipe do vídeo, sem ser ao vivo

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Quero encher minha boca de você...

"O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama..."

Drummond - O chão é cama - O Amor Natural 1992





Quero encher minha boca com o gosto da sua pele
para que assim possa esvaziá-la em seus ouvidos
e novamente preenche-la com suspiros

Quero encher minha boca de você
e deslizá-la por todos os recantos
deixando líquidos versos escritos em minha caminhada

Quero encher minha boca de você
e criptografar um feitiço em seu pescoço
magistralmente executado pelos sons de palavras mudas
responsáveis pelo eriçamento de cada fio de pelugem em seu e em meu corpo

Quero encher minha boca de você
e desaguar todas as sensações inquietantes de meus lábios nos seus
num diálogo verbalmente intangível

Quero encher minha boca de você
e absorvido tudo isso
...
desaguar meu corpo dentro do seu

VARCELLY

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Segundo Escuro




"Delícia de fechar os olhos,por um instante
e assim ficar sozinho,fabricando escuro...
sabendo que existe a luz"

Mario Quintana – Para viver com poesia
(capítulo Para ver com olhos de primeira vez)



Segundo escuro


Nunca me imaginei capaz de produzir algo tão belo e padronizado
Não sei ao certo quais pensamentos ou devaneios passam nas cabeças de
vocês,mas o meu escuro é sempre o mesmo

Confesso que isso me fez até duvidar de minha criatividade
sempre, por mim, muito valorizada

“Como posso eu não ter criado, no mínimo, dois tipos de escuro?
E como posso ser tão pouco criativo sendo tão bom em fazer algo?
Já que crio indubitavelmente sempre o mesmo escuro!.”

Sabe aquele suspiro profundo que dou enquanto fecho os olhos?
Não se preocupe...
Não há de ser nada sério
Só estou tentando resolver o meu segundo escuro


VARCELLY



quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Mercado de palavras



“Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
‘Trouxeste a chave?’”

(Carlos Drummond de Andrade)


Mercado de palavras

Estava debatendo outro dia minha escassez textual com uma grande poetisa. Concluir que o necessário para reaver meu estímulo de escrever seria ir a um mercado de palavras e conjuntamente com um ótimo vendedor pôr numa cesta todas as pérolas necessárias para o poema...

O mercado possuía um letreiro belo em sua fachada, como não poderia deixar de ser, sendo ele um mercado de palavras. Tudo era muito limpo e branco, apenas com algumas listras azuis que percorriam todo o recinto, e por algumas vírgulas, brindes da loja, que insistiam em cair dos cestos ao bel prazer do vento. As placas eram colocadas sobre as banquinhas, muito similares as de frutas em feiras populares, trazendo um pequeno resumo do que seria possível encontrar em cada uma delas.

As bancas eram divididas por seções, permitindo que o cliente as folheasse, digo, as conhecesse, utilizando o tempo que considerasse necessário. Cada seção tinha o seu vendedor típico. Havia a para os prosadores, para os cronistas, onde as paredes eram forradas com notícias de jornais por todos os lados, para os mais jovens com palavras multicoloridas e outras que explodiam ou eram animadas, dentre outras.

Dirigi-me ao fundo da loja, área detentora de um aroma suave, assim como, de um tom mais amarelado na ornamentação das paredes e de toda a seção, mas ainda com as listras azuis do começo. Ninguém mais, ninguém menos que um parnasiano estava a minha espera para me apresentar e me ajudar a encontrar as pérolas tão desejadas.

Fui adentrando pelos corredores de tão admirável construção e ele me explicando as subseções com inúmeras divisões... Verbos, adjetivos, por quantidade de sílabas, por tonicidade... populares, rebuscadas, antigas, modernas, separadas ou quebradas para os neologismos, sentimentais, fortes, para textos amorosos, sensuais, sexuais, formais... eu olhava detalhadamente cada banca nova, vasculhava alguns minutos, enquanto meu vendedor esperava pacientemente o fim daquela imersão.

Após algumas horas ou dias, não sei ao certo, perdido em meio à tamanha quantidade de possibilidades, decidi que melhor seria liberar meu atencioso vendedor, deixando-o a minha espera para uma visita mais acertada, quando eu soubesse ao menos sobre qual assunto desejava escrever.

Percorri todas as partes de loja em direção à entrada e só então percebi o porquê do tom amarelo da ornamentação. Ali as palavras eram analisadas com demasiado cuidado, ocasionando por muitas vezes a abstinência de usar qualquer uma delas. Era como um entendimento de que um belo poema na idéia é melhor que uma bela idéia mal escrita. Durante todo o caminhar tentei entender se era isso que estava impedindo-me de escrever, se minhas folhas estavam amarelando enquanto o frenesi das sensações ia embora...

A poetisa estava na porta quando saí de mãos vazias da loja. Contei-lhe meu sofrimento, a falta de termos em consonância com as idéias... ela sabiamente me disse “ As palavras você já comprou e não foi hoje, só lhe falta ordená-las”

Cruzei a rua em disparada atrás dos sentimentos adormecidos em meu travesseiro.


VARCELLY

Blog da Jacque, a tão falada poetisa. ^^
http://uni--versos.blogspot.com/
Divirtam-se!

PS-> Esse clipe é realmente mto bom.O Davida Choi tem
seu trabalho todo divulgado pelo youtube,inclusive,
ele que faz os clipes.Não deixem de ver.Abraço