quarta-feira, 16 de junho de 2010

Coincidência (Elle - 03)

A manhã chegou com seus raios um pouco ofuscados. O céu estava nublado e a brisa era fria. Elle adormecera na rede lendo um livro, que continuava apoiado em seu peito. O frio tornou-se mais intenso obrigando-o a puxar, mesmo inconscientemente, as varandas da rede para dentro. Não fora o suficiente. Cinco minutos depois recolhia rede e livro correndo para dentro de casa. Sorte ter acordado antes, pois pouco tempo depois veio a enxurrada.

Lançou a rede em cima do sofá, colocou Elis e Tom pra tocar, afinal não poderia haver trilha mais propícia para a chuva, e deslizou em direção ao quarto. No meio do corredor surgiu a dúvida, fechara a porta? Ainda ponderou duas vezes entre cruzar aqueles infindáveis três metros até a porta só por insegurança ou ir sem novos caminhos pra cama. Não adiantou. Gostava de segurança e de ter convicção de seus atos. Voltou e trancou, para evitar novas dúvidas, com duas voltas na chave.

Nesse dia, ficou aproveitando o aconchego da nova morada. Fez um tour passando parte do dia em cada cômodo. Dormiu um pouco mais no seu quarto, em seguida foi à sala e trocou a lado do disco, durante o sono a agulha pareceu também ter ficado com preguiça e escapara das rinhas do vinil. Demorou-se no banho, que tomara de porta aberta ouvindo Elis, morava sozinho não havia motivo para pudor. Sentando na cadeira de balanço pensou sobre as novas condições, convicções, possíveis amizades e gostou. Era diferente e único poder se reconstruir. As mudanças de casa permitiam parcialmente isso, no entanto, nada próximo a uma troca de cidade. Sentiu-se livre de preconceitos, de estereótipos e até de si mesmo.

Já passavam das onze horas quando percebeu não ter jantando. No dia da mudança avistara uma pizzaria próxima, sabendo que nesses primeiros dias provavelmente precisaria desses serviços anotou o telefone. Gabava-se de como a precaução o ajudava. Ligou. Cinco minutos depois chegara João informando ao senhor que esse era, graças a Deus, seu último serviço do dia. Conversaram um pouco mais e João afirmou não ser entregador e que tudo fora apenas uma coincidência. O gerente percebendo a proximidade do endereço e que João estava de saída para aquelas bandas mandou-lhe a pizza junto. Elle agradeceu e João partiu.

Novamente dentro de casa, pegou um vinho na geladeira, sentou-se e não colocou música. Queria saborear seu jantar em companhia da chuva. A chuva parou.



VARCELLY


2 comentários:

  1. kkkkkk achei propício olha aqui "Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
    E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante.
    Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo..."
    (Mário Quintana)
    e adorei a boa vontade de João kkkkkk bjs bjs =**

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  2. hauhauahauha uma nuvem pode ser um cachorro,um avião de desenho, uma cabeça de glofinho...kkkkkkkkkkkkk =DD Depois vc vai conhecer mais João, ele aparece em outros textos do Elle. ^^ Cheiro

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