terça-feira, 16 de julho de 2013

Fome e outras deficiências














"Se me queriam preso...não deveriam ter me dado gaivotas como iniciais"
Não gosto de comer,
Pois a comida não cumpre sua função nutricional
Ela não me satisfaz
Não me alimenta
Tristes os que pensam que o defeito vem da comida
O defeito primeiro advém da fome
Não tenho fome de feijão, arroz, saladas...
Minhas deficiências nutricionais são outras
E muitas vezes é na noite
Quando percebo o meu jejum alimentar
Que me sinto plenamente saciado
Fecho os olhos por um segundo
Admirando a beleza de ter existido naquele momento
E durmo com a certeza de que vivi
Pelo menos um pouco

Varcelly
Trilha sonora- Olívia Hime - O impossível Carinho


Obrigado especial para Vitor Neves e Karen Carvalho que me preencheram de poesia em Recife. ^^

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Abertura

















Trilha sonora: If I Knew (Bruno Mars)


Eles estavam apenas parados
E mesmo assim já eram belos
Algumas vezes moviam-se lentamente
Passeando pela superfície densa
Talvez a procura de algo
Eu não me escondia
Torcia para que me encontrassem
E para que assim mesmo estáticos
Me movimentassem
A periferia já havia me anunciado
O corpo se aquecia aos poucos e
O rosto já prenunciava o rasgo dos sorrisos
E então finalmente eles se movem
Com tanta ou mais graça do que tinham quando parados
Eles deslizam suavemente
Derrubando qualquer hesitação existente
Chegam ao ponto mais profundo da caminhada
E em nova ascensão até a completa abertura erguem um doce sorriso em seus lábios
Abertura de um piscar de olhos
Abertura de vida...
Abertura de um portal no qual eu me perderia
Seus olhos,seu beijo,seu tempo...


domingo, 16 de junho de 2013

Antes de se descobrir coberto

















Debaixo do cobertor existe um mundo
Onde os pensamentos, ventos uivantes, estremecem o corpo inteiro

Onde o frio ametabólico
Estreita os olhos e a face
Criando as linhas nas quais são escritos os versos de desamparo, de desespero

Do alto do Monte do Travesseiro 
Nasce o rio que acalenta as feições
E aquece os pensamentos, 
cessando os calafrios como as manhãs

O calor das suas águas é tão intenso e volumoso
Que nos obriga a contorna a montanha para descansar do seu encontro
E assim recobrar as feições 
Antes de se descobrir coberto.

Varcelly




quinta-feira, 2 de maio de 2013

Refletor (Fontes alternativas )


Ilustração Victor Varcelly



















Um dia o refletor queimou
Não sei ao certo a razão,
porém a partir desse dia ele não se manteve mais aceso 

Após o período de persistência retiniana,
causado pela visão constante da luz,
conseguir ver alguns pontos no escuro

Ainda insisti por hábito
em algumas luzes queimadas no caminho até a sala
Nada funcionou
Mantive o percurso hesitante,
guiando-me pelas suaves luzes que surgiam
Algumas chamavam mais a atenção em razão da intensidade do brilho,

mas nada suficiente para desvios de rota

Regressar à sala,mesmo sem luz, parecia confortável
O tato me fornecia a segurança necessária

O final do corredor me foi denunciado por ele
acompanhado de nova queda de energia 
na qual todas as luzes sumiram
exceto a luz fraca de uma pequena lanterna deitada no chão

Sua fonte de energia não vinha da casa
e assim me guiei até o seu encontro

Com ela em punho 
e sua luz acompanhando meus olhos
reabitei minha casa, senti-me seguro

Hoje,
o escuro que um dia surgiu
é meu
e convivemos harmoniosamente em meio a isso

(Som de lanterna desligando)


sábado, 13 de abril de 2013

Tanto Mar

Ilustração Victor Varcelly



















Para que tanta água
Se já não posso navegar

Me desprendi na tentativa de me convergir,sublimar
perdendo-me no vasto do inverso

Metade de mim dança nesse único verso

Arrematando destroços espumantes de outrora

Hoje
A luz projetada nos uni em seu rascunho lançado sobre o chão
Prospecções que ainda permitem clareza
em meio a prisão trazida pela ausência do reverso de navegar












Reversos negritos (descontrução alternativa)

Tanta água
Posso navegar na tentativa de me sublimar vasto

Nesse único verso
Destroços nos unem
E ainda permitem renavegar...
(Tanto Mar)



Texto feito a partir da ilustração, e desconstrução feita a partir do texto. O app no qual foi feito o desenho é o Fifty Three. Aguardem mais desenhos e mais desconstruções.

sábado, 16 de março de 2013

Ser(teza)

Formas de leitura:
 X + x (y) = verso. Ex: Pés + Pés(ados) = Pés pesados;
X= verso 1; x + x(y) = verso 2. Ex: Pés (verso 1) Descasos (verso 2)
X + x(y) = verso 1; x= verso 2 Ex: Pesados (Verso 1) Dez (verso 2)
X= verso Ex: Pés


Pés(ados)
Dez(casos)
Só(litário)
Sou(l)

Ver(edas)
Sem(tir)
Ter(nura)
Em(tornar)
Só(rrisos)

Ser(teza)
Só(nhar)

Há(mor)
Se(reno)
Vôo(ltar)


Ps- Obrigado aos Afectos (Alexandre Américo, Vanessa Oliveira e Alexsandro Araújo) pela desconstrução.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Perdendo o lirismo

Sugestão de leitura: ouça pelo menos 30s da música 
antes de começar a ler. Leia o texto na velocidade 
que a melodia determinar, como se fosse ela quem
estivesse lendo o texto e não você. Bom proveito. ^^

Acordei cético
Não sei ao certo quando isso aconteceu
Um belo dia, simplesmente, acordei

Não havia mais versos escondidos nos pequenos atos do dia-a-dia
Tudo ficou rígido, reto, denso...
Concreto
Tudo o que ficou não havia

O que seria preciso para refragmentar o pensamento?
Qual droga endógena havia sumido?
Como é possível sentir as coisas se esmaecendo aos poucos e sul...mim...dó...
O que?

Não sei ao certo
Talvez numa idade cronológica não específica
Acabe nossa produção endógena de lirismo
Do lirismo...Não sei

Victor Varcelly