segunda-feira, 25 de maio de 2009

Palavras, apenas palavras

Ultimamente tenho pensado bastante sobre palavras. O meu penúltimo post (O Processo Poético) mostra bem isso. Como vejo as palavras impregnadas em mim. Só que hoje discutindo sobre o texto “A verdadeira poesia” com uma amiga, veio-me um outro pensamento, eu sou palavra. E digo mais, levem isso ao extremo.

Imagine você sem nenhuma palavra. O que vê?Opa, não pode responder. É sem palavras!Lógico que toda essa argumentação é baseada no que um indivíduo vem a ser para o outro.

Em suma, para mim, nada mais somos do que um texto ambulante e sujeito a modificações a todo momento. Como se fossemos montados de lego e os encontrões com outros seres ora nos agregassem peças ora nos tirassem peças. Ou então, como se fossemos escritos com carvão e os encontros criassem novos traços e logo novas letras alterando todo o texto. Depois de pensar isso, confesso que me senti bem.

Gosto de ser um texto. Imaginar meu olhar como sendo versos que flutuam em direção a ti e dizem todo um universo de milênios, impossível de ser descrito numa vida inteira. Nossos atos são muitas vezes textos escritos impossíveis de escrever.

Gosto de ser um texto muitas vezes escrito em braile. Um mistério aos olhos a primeira vista e um banquete ao tato, algo como uma antologia poética de Drummond em mãos ou a cabeceira da cama.

Gosto de ser aquele sussurro ao pé do ouvido brincando com os teus cabelos, como a brisa faz ao passar na varanda, onde estás deitada em tua rede. Poder perceber a maneira leve de transpassar os teus cabelos, demorando-me em cada variação angular da curva do seu pescoço. Descer por dentro da blusa e vir na direção oposta pela rede para balançar a saia, rapidamente amparada por tuas mãos, controladoras do meu impulso.

Gosto de ser o conto interrompido por um infarto do escrito, responsável pela morte curiosa de milhares de leitores. Aquele texto julgado insosso pela capa e que termina por mostrar-te quem é o verdadeiro insosso.

Por fim gosto de ser o texto inacabado que continua sendo escrito por ti,quando amassamos nossos calhamaços e criamos uma nova escrita, uma nova palavra, uma.


VARCELLY

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