quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Mercado de palavras



“Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
‘Trouxeste a chave?’”

(Carlos Drummond de Andrade)


Mercado de palavras

Estava debatendo outro dia minha escassez textual com uma grande poetisa. Concluir que o necessário para reaver meu estímulo de escrever seria ir a um mercado de palavras e conjuntamente com um ótimo vendedor pôr numa cesta todas as pérolas necessárias para o poema...

O mercado possuía um letreiro belo em sua fachada, como não poderia deixar de ser, sendo ele um mercado de palavras. Tudo era muito limpo e branco, apenas com algumas listras azuis que percorriam todo o recinto, e por algumas vírgulas, brindes da loja, que insistiam em cair dos cestos ao bel prazer do vento. As placas eram colocadas sobre as banquinhas, muito similares as de frutas em feiras populares, trazendo um pequeno resumo do que seria possível encontrar em cada uma delas.

As bancas eram divididas por seções, permitindo que o cliente as folheasse, digo, as conhecesse, utilizando o tempo que considerasse necessário. Cada seção tinha o seu vendedor típico. Havia a para os prosadores, para os cronistas, onde as paredes eram forradas com notícias de jornais por todos os lados, para os mais jovens com palavras multicoloridas e outras que explodiam ou eram animadas, dentre outras.

Dirigi-me ao fundo da loja, área detentora de um aroma suave, assim como, de um tom mais amarelado na ornamentação das paredes e de toda a seção, mas ainda com as listras azuis do começo. Ninguém mais, ninguém menos que um parnasiano estava a minha espera para me apresentar e me ajudar a encontrar as pérolas tão desejadas.

Fui adentrando pelos corredores de tão admirável construção e ele me explicando as subseções com inúmeras divisões... Verbos, adjetivos, por quantidade de sílabas, por tonicidade... populares, rebuscadas, antigas, modernas, separadas ou quebradas para os neologismos, sentimentais, fortes, para textos amorosos, sensuais, sexuais, formais... eu olhava detalhadamente cada banca nova, vasculhava alguns minutos, enquanto meu vendedor esperava pacientemente o fim daquela imersão.

Após algumas horas ou dias, não sei ao certo, perdido em meio à tamanha quantidade de possibilidades, decidi que melhor seria liberar meu atencioso vendedor, deixando-o a minha espera para uma visita mais acertada, quando eu soubesse ao menos sobre qual assunto desejava escrever.

Percorri todas as partes de loja em direção à entrada e só então percebi o porquê do tom amarelo da ornamentação. Ali as palavras eram analisadas com demasiado cuidado, ocasionando por muitas vezes a abstinência de usar qualquer uma delas. Era como um entendimento de que um belo poema na idéia é melhor que uma bela idéia mal escrita. Durante todo o caminhar tentei entender se era isso que estava impedindo-me de escrever, se minhas folhas estavam amarelando enquanto o frenesi das sensações ia embora...

A poetisa estava na porta quando saí de mãos vazias da loja. Contei-lhe meu sofrimento, a falta de termos em consonância com as idéias... ela sabiamente me disse “ As palavras você já comprou e não foi hoje, só lhe falta ordená-las”

Cruzei a rua em disparada atrás dos sentimentos adormecidos em meu travesseiro.


VARCELLY

Blog da Jacque, a tão falada poetisa. ^^
http://uni--versos.blogspot.com/
Divirtam-se!

PS-> Esse clipe é realmente mto bom.O Davida Choi tem
seu trabalho todo divulgado pelo youtube,inclusive,
ele que faz os clipes.Não deixem de ver.Abraço

5 comentários:

  1. muito boa narrativa! pela minha surpresa eu estava nela! fico honrada! :)
    hahahha

    lembro dessa nossa conversa, precisamos conversar mais para que nossos papos inspirem o quebra-cabeça de nossos textos!

    Grande abraço! :*

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  2. simmm
    o clip é incrível! não conhecia ele, valeu a dica! ;)

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  3. hauahuah Vc é chique demais jacque.^^
    conversaremos sim.cheiro grande linda.
    O clipe é realmente mto bonito.

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  4. "um belo poema na idéia é melhor que uma bela idéia mal escrita"
    adorei!

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  5. "Durante todo o caminhar tentei entender se era isso que estava impedindo-me de escrever, se minhas folhas estavam amarelando enquanto o frenesi das sensações ia embora..."

    "a falta de termos em consonância com as idéias..."

    As vezes, quase sempre padeço deste mal...
    ;D
    Parabéns, gostei!

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