segunda-feira, 13 de julho de 2009

Máquina do tempo

Opa, amigo, bom que chegou. Estava, nesse momento, rememorando algo engraçado que vem me acontecendo. Sei que vai parecer algo estúpido, mas começo a acreditar na idéia de máquina do tempo. O amigo ponderou a relevância daquela informação, no entanto, em consideração ao velho companheiro manteve o semblante de interesse. Afinal, depois que inventaram o teletransporte tudo ficou mais fácil para a viagem temporal, pois só faltava usar esse transporte no tempo. Para minha sorte, disse o senhor, pareço ter sido escolhido como usuário teste do sistema. Hei de lhe contar tudo em detalhes, que são necessários porque aparentemente existem efeitos colaterais.

Ontem estava lado a lado com meu filho, Thomas, e ele brincava tranquilamente dentre seus carrinhos. Os cabelos dele negro como de sempre, os dentes ainda em fase de mudança e os pés pequenos que se moviam como balas por toda casa. Muito agradável vê-lo sadio a brincar. De repente, estava sentado a me balançar na cadeira e o Thomas entrava pela porta da frente, maior, forte e já com cara de homem. Foi como um avanço de quinze anos num piscar de olhos. Calma, não argumente ainda. Tenho certeza que não estava sedado! Tenho, tenho sim! Sei que estou num hospital, só não entendo o porquê.Por que tanta certeza? Porque meu filho veio novamente ao meu encontro e ficou comigo o tempo todo que o médico esteve aqui.

Durante essas viagens temporais, meu corpo sofreu sérias avarias, estou velho, aparentemente, doente e preso no futuro aqui com você, amigo que o nome me foge agora. Desconheço o método que os cientistas utilizam para me fazer viajar no tempo, não os vejo em canto nenhum, tudo parece tão real e, por fim, até meu corpo se altera. Inclusive, essa nossa conversa já pode estar acontecendo de novo ou não, de acordo com a vontade dos cientistas.

Sim, o envelhecimento e o esquecimento são alguns dos distúrbios que comentei no começo. Todavia, existe outro bem pior, quando avanço no tempo as cores do mundo parecem bem mais fracas e as imagens mais fugazes. É como se fosse uma projeção com interferências, na qual há chuviscos, mas ainda se pode captar algo da imagem. O Thomas, por exemplo, é completamente colorido na atualidade, brincando com seus carrinhos, porém no futuro, não. Ele já se apresenta mais pálido (cabelos brancos, alto) assim como o ambiente também. É difícil falar desse futuro porque, como disse, as interferências e as inconstâncias dificultam o armazenamento dos fatos.

O senhor adormece e no dia seguinte, ainda preso no futuro, assustou-se com a entrada de um completo estranho no quarto, que aparentemente o conhecia muito bem. O estranho não era enfermeiro, nem do hospital, pois não vestia identificações, estava humildemente composto. O sujeito sentou-se na borda da cama, o senhor afastou-se contrariado pensando “O que esse homem quer vindo sentar-se tão perto de mim?”.

- Senhor? Não se assuste.
- Como assim não se assuste? Quem é você? E ainda mais como se atreve a sentar tão perto de mim?
- Senhor, sou o Thomas, seu filho.
- Mentira! O Thomas não está velho. Há dois dias atrás ele brincava de carrinho na sala. E afinal, como vim para aqui? Pessoas só entram e saem, no entanto, ninguém me explica a real razão disso. Diga aos cientistas que não quero mais essas experiências! Quero minha simples vida com o Thomas brincando de carrinho em casa de volta.

Em seguida o senhor sussurra olhando para alguns pontos distantes do quarto “Acho que o avanço temporal dessa fez foi muito grande, posso até estar num universo paralelo...”. Mas é subitamente interrompido pelo estranho.

- Pai!
- Que pai? Eu não sou seu pai e você não é o Thomas!
- Não tem máquina do tempo pai.
- Você sabe da máquina? Você os conhece?
- Pai não existe máquina!
- E como estou aqui conversando com um estranho se minhas lembranças mais fortes são as de dois dias atrás com Thomas na sala?
- Você está com Alzheimer pai e se passaram trinta anos desde minhas brincadeiras na sala.



VARCELLY

ps: alguns filmes parecem com esse texto. São eles Diário de uma paixão; Efeito Borboleta e Camisa de força (The jacket)





2 comentários:

  1. "vai triturar teus sonhos tão mesquinhos..."

    a vida é agora.

    ResponderExcluir
  2. Cartola é atemporal!
    Ótimo post, mas como sempre vem a pergunta...
    "Victor?" :P

    ResponderExcluir