quinta-feira, 23 de julho de 2009

Visitas inesperadas

Sou forte e inabalável pela Saudade. Esse era meu grito de guerra há pouco tempo atrás. Dizia muito honrado de minha segurança, que desconhecia tal sentimento, pois sempre o driblava. Se alguém desaparecia ou se ausentava de minha vida, em pouco tempo, eu esquecia e continuava normalmente os dias. Ia aos mesmos lugares sem fantasmas, falava dos ausentes sem gaguejar, ou seja, tirava de letra.

No entanto, há pouco tempo a conheci pelos abraços de uma Morena. Primeiro, só a Morena possuía abraços reconfortantes e destruidores de todo o mal. Não importava se o seu mal-estar era de saúde, psicológico ou financeiro, ela lhe envolvia com tamanho carinho e suavidade que chegava a ser amnésico. O seu golpe fatal, porém, ainda estava por vir, o sorriso. Ambos, quando juntos, derrubavam qualquer marmanjo autoproclamado resistente às conseqüências duradouras das carícias de uma mulher.

Essa semana, ela me pegou nos braços e sorriu me olhando nos olhos. Logo em seguida, riu da minha cara de bobo. Era uma manhã como outro qualquer, mas as lembranças da casa ainda estão todas estampadas em minha memória. O lençol enrugado pelo nosso peso, as janelas entreabertas com as cortinas bloqueando a entrada de luz e o corpo dela pesando em cima do meu. Não sei se havia uma música ambiente ou se essa era efeito da beleza do sorriso dela. O sol raiava, todavia, eu desejava a cada lance de luz que fosse a noite mais densa e negra só para tê-la em meus braços por mais tempo.

Tudo assim se deu e foi maravilhoso. No entanto, na manhã seguinte, ela me informou que iria viajar e permanecer fora por um final de semana inteiro. No começo, com meu ceticismo, duvidei da força das marcas deixadas em minhas costas e memória. Trocamos um último beijo e ela partiu. Juntamente com o desaparecimento do carro na primeira curva da minha rua fora meu ceticismo.
Fechei a porta e me preparei para vencer o percurso até meu quarto, alguém bateu na porta antes disso. Virei sorrindo, só podia ser ela desistindo de viajar ou voltando para pegar algo. Enganei-me! Era uma senhora vestida com cores mornas, roupas surradas, com um sorriso amarelo no rosto e detentora de um caminhar lento e cansado. Ela conferiu meu sorriso, que já havia se transformado numa interrogação, e disse: vim passar uns tempos com você, dando-me uma tapinha no rosto. Ela sorria estranha como se estivesse a muito ansiando essa visita triunfante.

A senhora conhecia todos os recantos da minha casa. Isso me assustava! Como ela podia saber disso? Olhou minha rede na varanda e disse: Quase me deitei nessa rede, porém você sempre foi hostil. Fique paralisado por um momento, eu hostil com uma senhora? Isso só podia ser mentira e das muito mal contadas. Ela foi contando histórias de cada recanto e passando sem hesitar. O mais surpreendente é que não mentia sobre nenhuma, cada narrativa era a mais pura verdade. Ela ainda as contava repetindo os trejeitos da Morena, até o perigoso sorriso-abraço ela tentou copiar. Os cacoetes soavam caricaturais se comparados aos reais, mas a ausência da real dona os deixava mais fiéis.

Vimos meu sofá, a cozinha, o escritório, o quarto de hospedes e, enfim, subimos ao primeiro andar e chegamos ao meu quarto, ainda impregnado pela presença da Morena. A senhora olhou-me rindo sarcasticamente e falou: Ora, vejam só. Quase morri para entrar na sua casa e hoje entro pela porta da frente, ganhando de bandeja o quarto principal, onde muitas mulheres quiçá chegaram. Ela me empurrou, tropecei na cama e caí deitado. O perfume da Morena preencheu o ambiente quando aterrissei nos lençóis quentes e enrugados. Nesse momento, reconheci a senhora, Saudade. Encomenda enviada com os comprimentos da Morena, eram esses os escritos presentes no cartão que a senhora me entregou.

Não consegui entender como a Saudade podia ter me batido tão forte e tão inesperadamente. Ainda tive um golpe de misericórdia, dois segundos depois do desaparecimento do carro da Morena na esquina, meu celular vibrara no bolso. Numa mensagem ela informava que um senhor muito jovem, bonito e cego a havia encontrado e se juntara a ela na viagem, trazendo de brinde um outro preguiçoso e vestido de cores mornas, que tentava copiar todos os meus cacoetes e trejeitos. Sorri e dei um beijo na senhora, que agora me olhava surpresa, minhas encomendas também haviam chegado.


VARCELLY





http://www.youtube.com/watch?v=hSR6UP9866c ( O clipe da música)

3 comentários:

  1. :D:D:D:D

    Felicíssima por ter lido esse texto.
    Se joga!
    hehehe

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  2. Tróia, a Muralha da China, o Pentágono...
    É meu preto... Poder não é ter lança ou escudo maiores. As brechas da armadura estão no soldado, que sente a ilusão humana de ter segurança.
    Lhe pergunto: Que tinha o exército egípcio para atrasar tanto a legião romana?
    "Romana Legio Omnia Vincit"???

    Abraços sorrindo filho!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Mas calma que esses são meus, viu?
    hauahuahuahuahuahu

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  3. você nunca me decepciona victor. obs. tinha q ser uma morena mesmo. réééééé

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